SignWriting
Autor: Almir Cristiano | Publicado: 26/08/18 | Atualizado: 19/03/20 | Acessos: 98865
O que é SignWriting?
SignWriting é um sistema que permite ler e escrever qualquer língua de sinais sem a necessidade de tradução para uma língua oral. Ela expressa os movimentos, as forma das mãos, as marcas não-manuais e os pontos de articulação através de símbolos que são combinados para formar um sinal específico da língua de sinais.
História da SignWriting
A SignWriting foi desenvolvida em 1974 por Valerie Sutton, uma dançarina, que havia, dois anos antes, desenvolvido a DanceWriting, um sistema escrito de danças.
Conforme os registros feitos por Valerie Sutton na homepage do SignWriting, em 1974, a Universidade de Copenhague na Dinamarca solicitou que ela registasse os gestos gravados em vídeo. As primeiras formas foram inspiradas no sistema escrito de danças.
Embora não tenha sido o primeiro sistema de escrita para línguas gestuais, a SignWriting foi a primeira que conseguiu representar adequadamente informações como as expressões faciais, a postura do gestuante ou se a frase é longa ou curta.
- Em 1977, Judy Shepard-Kegl, na época uma estudante de graduação em linguística no Massachusetts Institute of Technology (MIT), organizou o primeiro workshop sobre SignWriting para a Sociedade de Linguística de New England, nos Estados Unidos. Nesse ano, o primeiro grupo de surdos adultos a aprender o sistema foi um grupo do Teatro Nacional de Surdos, em Connecticut;
- Em 1978, as primeiras aulas em vídeo foram editadas;
- Em 1979, Valerie Sutton trabalhou com uma equipe do Instituto Técnico Nacional para Surdos, em Rochester, prestando assistência na elaboração de uma série de panfletos, chamados "The Techinical Signs Manual" - O Manual Técnico de Sinais, que usaram ilustrações em SignWriting;
- Na década de 1980, Sutton apresentou um trabalho, no Simpósio Nacional em Pesquisa e Ensino da Língua de Sinais, intitulado "Uma forma de analisar a ASL e qualquer outra língua gestual sem passar pela tradução da língua falada";
- Em 1981 foi publicado o livro "SignWriting For EveryDay Use" - Escrita para o Uso Diário, de Valerie Sutton. Este foi o principal livro de referência para estudantes de SignWriting durante os anos 80;
- Em 1986, Richard Gleaves desenvolveu o software "SignWriter". A SignWriting passou de um sistema escrito à mão a um sistema possível de ser escrito no computador;
- Em 1996, foi publicada a primeira história escrita em SignWriting, intitulada "Goldilocks and the three bears" - Cachinhos Dourados e os três ursos. No mesmo ano foi feita a primeira publicação do SignWriting na internet, com demonstrativos da escrita de idiomas gestuais;
- Em 2003, o desenvolvedor de sistemas Steve Slevinski precisou adicionar imagens do SignWriting em um site. Não conseguiu encontrar uma maneira fácil de fazer isso, então teve a idéia de criar seu próprio software. O objetivo seria a criação dos símbolos da SigWriting de forma mais fácil e rápida. Nasce então o software "PUDL", que mais tarde ficou conhecido como "SignPuddle".
- Em 2004 Valerie Sutton convida Steve para trabalhar como consultor. Inicia-se então uma produtiva parceria: Steve foi responsável por grande parte do desenvolvimento que leva a língua de sinais aos computadores e à Internet.
Aluna surda Judy Mejia, 9 anos, aprendendo SignWriting na "Escuelita de Bluefields" na Nicarágua, quando Judy Shepard-Kegl e seu marido, James Shepard-Kegl, coordenaram um programa intensivo de imersão em língua de sinais naquele país. Data: Março de 1999. Fonte: Signwriting.org
SignWriting Hoje
- O sistema evoluiu ao longo dos anos, não tendo mais a forma como foi criado, em 1974. A escrita tornou-se pública e naturalmente foi sendo padronizada, envolvendo várias pessoas nesse processo;
- A SignWriting tornou-se muito popular nos Estados Unidos e cada vez mais divulgado em outros países. É utilizada para escrita das línguas de sinais de aproximadamente 60 países diferentes.
- Steve Slevinski e Valerie Sutton fornecem suporte técnico aos usuários da SignWriting enquanto expandem cada vez mais o software SignPuddle;
- Valerie Sutton mantém o site www.signwriting.org, que contém o maior conteúdo sobre SignWriting da internet;
- Steve Slevinski, o responsável por grande parte do desenvolvimento tecnológico da SignWriting, está desenvolvendo Wikipedias próprias para as línguas de sinais, algo como um enorme banco de dados público que permite ao usuário adicionar ou consultar os sinais escritos em SignWriting de qualquer língua de sinais.
Como funciona o SignWriting?
A SignWriting usa um grande conjunto de símbolos. Cada símbolo representa uma concepção visual: mãos, movimento, dinâmica, tempo, cabeça, rosto, tronco ou membro. Os símbolos são combinados para formar um sinal específico. Exemplo:
Exemplos da escrita em SignWriting com base em padrões da palma de mão e dedos. Créditos: Adam Frost / Signwriting.org
Da mesma forma que o alfabeto latino é utilizado para escrever as línguas orais-auditivas, como o português, inglês, francês e outras, o conjunto de símbolos no SignWriting é internacional, sendo necessária a adaptação para a língua de sinais de cada país.
Importância do SignWriting
Antigamente, usuários da língua de sinais não tinham como escrever na sua própria língua. Isto quer dizer que para escrever precisavam usar uma língua oral. Nesta língua a maioria dos surdos encontram muitas dificuldades de expressão, mesmo depois de muitos anos de escolaridade. Com a SignWriting, existe a possibilidade dos surdos escreverem no seu próprio idioma, sem terem de usar uma língua oral.
SignWriting no Brasil
- No ano de 1996, a PUC do RS em Porto Alegre através do Dr. Antonio Carlos da Rocha Costa começou a usar o programa de computador SignWriter para gravar a Língua Brasileira de Sinais com seu alunos. A partir disso, SignWriting começou a tomar forma no Brasil. O Dr. Rocha formou um grupo de trabalho envolvendo especialmente a Prof. Marianne Stumpf (surda) e a Prof. Marcia Borba. Marianne é surda e atuou como professora na área de computação na Escola Especial de Concórdia, em Porto Alegre, trabalhando com o SignWriting em algumas turmas.
- Em 2001 foi publicado o livro Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue - Deit-Libras - 2 volumes, dos autores Fernando César Capovilla, Walkiria Duarte Raphael e Aline Cristina L. Maurício, uma importante publicação sobre Libras no Brasil. O dicionário documenta, em três línguas - português, inglês e Libras, cerca de 9.500 verbetes, e fornece descrições da forma e articulação dos sinais. Traz também ilustrações com o significado dessas convenções, incluindo o sistema de escrita em SignWriting de cada sinal apresentado;
- Em 2005 Marianne Stumpf desenvolveu pesquisas no Brasil e na França em escolas de surdos aplicando o ensino do SignWriting. Os resultados demonstram que os sujeitos surdos têm muita facilidade em seu aprendizado e uso, e que isto lhes permite ampliar a percepção da língua de sinais em seus países;
- Desde 2006 a disciplina de SignWriting (chamada de "Escrita de Sinais") compõe com 180h a grade curricular do curso de "Letras/Libras" da UFSC. As duas primeiras edições deste curso (2006 e 2010) foram de Educação à Distância e propiciou a mais de 1200 alunos surdos e ouvintes de diversos estados do Brasil - o conhecimento básico nesta área;
- Em 2009 foi publicado o livro Novo Deit-Libras - Língua Brasileira de Sinais - 3 volumes, dos autores Fernando César Capovilla, Walkiria Duarte Raphael e Aline Cristina L. Maurício. Contém léxico de sinais duas vezes maior que o do dicionário anterior, e diversas inovações. Contém a escrita visual direta do sinal em SignWriting;
- Em 2011 surgiu a editora Libras Escrita, que dentre outras publicações, editou o livro "Escrita de Sinais sem Mistérios", dos autores Madson Barreto e Raquel Barreto, a primeira publicação específica sobre o SignWriting. Nesta obra, o ensino é feito passo a passo com muitos exemplos de sinais e textos escritos em Libras;
- Em 2017 foi publicado o livro Dicionário da Língua Portuguesa de Sinais: A Libras em suas Mãos - 3 Volumes, dos autores Fernando César Capovilla, Walkiria Duarte Raphael, Janice Temoteo e Antonielle Cantarelli. Este Dicionário documenta mais de 13 mil sinais de Libras, trazendo os verbetes correspondentes ao sinal em português e inglês, a definição do significado do sinal e dos verbetes, ilustrações e a descrição detalhada da forma do sinal, além de exemplos ilustrativos do uso funcional apropriado do verbete em frases e a especificação do escopo de validade geográfica em relação aos estados brasileiros. Contém a escrita visual direta do sinal em SignWriting. Este livro exigiu 25 anos de pesquisas.
- Nos últimos anos, foram publicadas diversas obras literárias em SignWriting, por exemplo:
Conhece algum livro que não foi mencionado? Por favor, avise-nos através do e-mail contato@libras.com.br.
Ph.D. Prof.ª Dra. Marianne Rossi Stumpf (surda)A escrita de sinais é muito importante para nós, porque é a forma própria de escrever a língua de sinais. A comunidade surda que utiliza a língua de sinais merece ter também a sua escrita. Da mesma forma, as crianças devem escrever os sinais uma vez que usam a língua de sinais.
Vídeos Compartilhados
Conhecendo a Escrita de Sinais (Sign Writing). Fonte: Se Liga Nas Mãos
Signwriting - Animação. Fonte: Ananda Elias
Referências:
SIGNWRITING.ORG. SignWriting Lessons. Disponível em: <https://www.signwriting.org/lessons/>. Acesso em: 18 Nov. 2019
LIBRAS.UFSC.BR. Marianne Rossi Stumpf. Disponível em: <http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/escritaDeSinaisI/scos/cap15513/1.html>. Acesso em: 17 Dez. 2019
UNIVERSIDADE DA LIBRAS. Livro Escrita de Sinais sem Mistérios. Disponível em: <https://universidadedalibras.com.br/livro-escrita-de-sinais-sem-misterios/>. Acesso em: 17 Dez. 2019
ESCRITA DE SINAIS. SignWriting no Brasil. Disponível em: <https://escritadesinais.wordpress.com/page/2/>. Acesso em: 29 Dez. 2019
ALMIR CRISTIANO. Valerie Sutton. Disponível em: <https://www.libras.com.br/valerie-sutton>. Acesso em: 18 Nov. 2019.
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CLAUDIA COSTA. "Dicionário da Língua de Sinais" exigiu 25 anos de pesquisas. Disponível em: <https://jornal.usp.br/cultura/dicionario-da-lingua-de-sinais-exigiu-25-anos-de-pesquisas/>. Acesso em: 19 Dez. 2019.
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